Você provavelmente já ouviu falar da expressão Visual Law, mas já refletiu sobre como essa abordagem pode transformar a sua prática jurídica?
O universo legal, conhecido por sua formalidade e linguagem técnica, começa a perceber que o excesso de complexidade prejudica o entendimento e a interação com as partes envolvidas.
Essa mudança destaca a urgência de tornar o Direito mais acessível, alinhando-se às expectativas de um público que prioriza clareza e eficiência.
O Visual Law adapta a comunicação às novas maneiras de consumir e interpretar informações, facilitando a comunicação com clientes e juízes.
O que é Visual Law?
É uma técnica que facilita a compreensão do Direito tanto para o público geral quanto para o especializado.
Como parte integrante do movimento Legal Design, que aplica os princípios do Design Thinking ao Direito, o Visual Law se destaca pelo uso de recursos visuais para tornar as interações e processos mais claros, objetivos e funcionais, permitindo que pessoas sem formação na área compreendam melhor os conteúdos legais.
Qual o seu principal objetivo?
Facilitar é a palavra-chave: é sobre aprimorar a maneira como a informação é apresentada ao cliente, potencial cliente, colega, servidores da Justiça ou juiz.
Seja ao peticionar em um processo ou ao enviar um relatório de andamento, a ferramenta certa garante que a mensagem seja transmitida de forma clara e eficiente.
Com frequência, pontos essenciais de uma fundamentação passam despercebidos diante do excesso de palavras, jurisprudências e citações em uma peça processual.
As diferenças entre Visual Law, Design Thinking e Legal Design
Para compreender melhor a relação e as diferenças entre esses conceitos, é útil organizá-los em subtópicos, destacando como cada um possui abordagens distintas, mas interligadas.
1- Design Thinking: metodologia focada em soluções
O Design Thinking é uma metodologia voltada para o desenvolvimento de produtos e serviços centrados nas necessidades das pessoas. Seu objetivo é organizar o processo criativo e gerar respostas inovadoras para diversos tipos de problemas.
No contexto jurídico, oferece a base metodológica para implementar ideias criativas e eficazes.
2 – Legal Design: aplicação de design no Direito para uma melhor experiência do usuário
O Legal Design aplica os princípios do Design Thinking ao Direito, com foco na experiência do usuário. Seu objetivo é repensar como os produtos, serviços e processos são desenvolvidos.
Essa abordagem pode ser utilizada em diferentes áreas, desde o planejamento estratégico de escritórios de advocacia até o desenvolvimento de sistemas e a organização visual de documentos.
Seus objetivos incluem:
- Otimizar processos: ações inovadoras para facilitar o trabalho dos operadores do Direito.
- Ampliar o acesso à Justiça: reduzir barreiras de compreensão para a população em geral e para profissionais da área.
- Desenvolver sistemas mais eficazes: criar interfaces claras e de fácil compreensão.
3 – Visual Law: ferramenta visual do Legal Design para simplificar a comunicação
É uma ferramenta voltada especificamente para a comunicação no Direito que utiliza recursos visuais para converter documentos complexos em materiais mais acessíveis de assimilar.
Com essa abordagem você pode reduzir a densidade textual, tornando a informação mais atrativa e objetiva.
Quais são os seus principais recursos?
Agora vamos explorar os recursos para simplificar com eficiência. Confira abaixo os principais exemplos e suas aplicações!
1. Infográficos
O que são? Representações gráficas que combinam imagens, textos e dados para apresentar informações de forma clara e atrativa.
Como ajudam? Estruturam informações complexas de maneira intuitiva, facilitando a assimilação de conteúdos técnicos ou comparativos.
- Ideais para: informações técnicas ou apresentar dados em um formato visual.
- Exemplo: demonstrar estatísticas de processos em andamento ou os custos envolvidos em um contrato.
2. Fluxogramas
O que são? Diagramas que organizam etapas, fluxos de trabalho ou decisões em uma sequência lógica e visual.
Como ajudam? Simplificam o entendimento de processos e decisões, tornando claro o caminho a ser seguido em diferentes situações.
- Úteis para: descrever o andamento de um processo ou ilustrar o funcionamento de cláusulas contratuais.
- Exemplo: demonstrar o fluxo de ações relacionadas a ESG, como o processo de implementação de políticas de sustentabilidade em uma empresa, desde a análise inicial até a execução e monitoramento.
3. Pictogramas e ícones
O que são? Imagens ou símbolos simples que representam conceitos ou informações específicas.
Como ajudam? Tornam os documentos mais visuais, reduzindo a dependência de textos longos e facilitando a identificação de informações importantes.
- Ideais para: destacar prazos, custos ou etapas em contratos e pareceres.
- Exemplo: utilizar ícones para representar prazos processuais ou valores em cláusulas contratuais.
4. Storyboards e linhas do tempo
O que são? Representações visuais que narram uma sequência de eventos ou etapas de forma cronológica.
Como ajudam? Facilitam a visualização de processos ou a explicação de cronologias complexas, deixando mais claro o desenvolvimento de casos ou eventos.
- Ideais para: mostrar a evolução de um caso judicial ou as etapas de negociação de um contrato.
- Exemplo: apresentar a linha do tempo de um processo de execução fiscal, desde a citação até a penhora de bens.
5. Bullet points e textos reduzidos
O que são? Estruturas textuais que usam pontos para destacar informações em listas curtas e diretas.
Como ajudam? Tornam a leitura mais objetiva e permitem que o leitor localize rapidamente os pontos-chave.
- Ideais para: resumir cláusulas contratuais ou pontos de um parecer jurídico.
- Exemplo: listar as condições de um acordo de maneira clara e organizada.
6. Vídeos e QR codes
O que são? Elementos interativos que complementam o texto com explicações visuais ou links para conteúdos adicionais.
Como ajudam? Tornam a comunicação mais dinâmica e interativa.
- Ideais para: explicar conceitos complexos ou vincular materiais complementares.
- Exemplo: criar um vídeo curto explicando os termos de um contrato ou usar um QR code para acessar decisões anteriores relacionadas a um caso.
Benefícios na comunicação jurídica
Agora é a hora de destacar os principais benefícios dessa abordagem:
- Facilita a compreensão: simplifica documentos tornando-os claros e acessíveis.
- Reduz o tempo de leitura: permite localizar informações essenciais rapidamente, economizando tempo.
- Promove transparência e confiança: melhora a relação com os clientes ao apresentar informações de forma organizada e profissional.
- Aumenta a eficiência: otimiza o trabalho, reduzindo o tempo de análise e revisão.
- Evita mal-entendidos: minimiza erros de interpretação.
- Melhora a retenção de informações: ajuda a fixar os conteúdos na memória.
Como pode ser aplicado no seu dia a dia?
Agora vamos à parte prática: como implementar esse enfoque na comunicação de seu cotidiano profissional? Confira algumas dicas para começar!
1. Simplifique termos e reduza textos
- Utilize ferramentas como ChatGPT para revisar e simplificar textos;
- Reduza o volume de texto em contratos, petições e pareceres, destacando apenas os pontos essenciais;
- Substitua o “juridiquês” por uma linguagem clara e direta, sem perder a precisão técnica.
2. Crie vídeos explicativos para engajar o cliente
- Produza vídeos curtos para apresentar andamentos processuais, pareceres ou termos contratuais de maneira mais envolvente;
- Use animações ou ilustrações, mantendo o cliente interessado e informado.
3. Utilize infográficos e imagens
- Substitua blocos de texto por infográficos;
- Crie tabelas comparativas, fluxogramas e gráficos para detalhar processos ou decisões judiciais;
- Empregue imagens e ícones para destacar informações importantes, como prazos e custos.
4. Torne petições mais objetivas
- Estruture elas com títulos e subtítulos claros, ajudando a localizar rapidamente as informações relevantes.
- Use diagramas para demonstrar linhas do tempo processuais ou relações entre partes.
- Evite textos extensos e redundantes.
5. Modernize a comunicação interna
- Desenvolva relatórios internos e apresentações utilizando recursos visuais, como gráficos e tabelas, para facilitar a interpretação pelos membros da equipe.
- Utilize QR codes para acessar informações adicionais.
6. Acompanhe as tendências e inovações
- Esteja atento às inovações no mercado e participe de cursos ou workshops.
- Atualize-se constantemente.
E de que maneira é vista sua utilização na Justiça brasileira?
A aplicação deste enfoque tem ganhado destaque com diversas iniciativas. Um exemplo notável é a 13ª Vara do Trabalho de Fortaleza, no Ceará, que adotou técnicas de Visual Law em resumos de sentenças.
Segundo a juíza do Trabalho Karla Yacy Carlos da Silva, “essa abordagem facilita a compreensão das partes sobre as decisões judiciais, eliminando a necessidade de “traduzir” termos complexos e explicando o resultado de forma clara e acessível”.
Essa prática é especialmente relevante em um sistema judiciário sobrecarregado, onde é prioritário evitar atrasos e mal-entendidos, aumentando as chances de que sejam compreendidos e analisados integralmente por juízes e servidores.
E você vai ficar de fora?
O Visual Law promove uma verdadeira democratização do acesso à Justiça, porque no Direito atual as informações precisam ser repassadas de forma clara e rápida.
Não esqueça: o saber jurídico sempre será a base da sua argumentação. Não é só elaborar um documento bonitinho, com desenhos e gráficos, mas uma forma de melhorar a sua comunicação com o destinatário final, seja ele cliente ou o juiz. Quer saber mais? Explore outros conteúdos sobre gestão de escritórios e planejamento no blog da Alkasoft. Descubra como modernizar sua prática e impulsionar sua eficiência!